O professor
mais desejado do mundo, colocado em 104 escolas sem ser já candidato a nenhuma,
deveria também ser candidato ao Livro Guinness de Recordes, mesmo contra a sua
vontade e vencendo a distância insular do estabelecimento de ensino que se
antecipou aos rigorosos métodos continentais de colocação de docentes. Sempre
seria mais original do que as habituais entradas portuguesas no prestigiado repositório
das ideias mais parvas e imbatível tomo do conhecimento inútil. Quase sempre,
as candidaturas portuguesas consistem em cozinhar algo estupidamente grande: a
maior caldeirada de peixe, a maior feijoada, a maior empada de atum de lata, o
maior arroz de atilhos… e assim por diante, até ao empanturramento final.
Se não
quiserem desviar-se excessivamente do motivo gastronómico, podem sempre dizer
que se trata da maior “salsicha educativa” do mundo, medida ao vivo nas televisões
pelo próprio primeiro-ministro. Ninguém percebeu ainda o que seria a dita
salsicha, nem qual a receita que o chefe de governo teria em mente, mas existem
fundadas suspeitas de que alguém terá mesmo tentado cozinhar coisa bastante
insólita: fosse um ministro em lume brando, ou a escola pública em banho-maria,
fosse um secretário de estado flambé ou um diretor geral confitado. Na mais conservadora
das teorias da conspiração que por aí circulam, fontes geralmente sóbrias afiançam
como muito provável que um agente infiltrado, ao serviço de interesses obscuros,
terá concebido um churrasco informático de dantescas proporções para atingir um
qualquer objetivo.
O suposto objetivo
parece tão vago, ou tão absurdamente incoerente, como a política de educação do
ainda ministro Crato e há até quem sugira que são parte da mesma coisa, o que
já me parece francamente confuso. Confuso, mas não mais improvável do que a
incompetência épica de alguém que não consegue subtrair o nome de um professor
de uma lista. Um professor entre muitos, porque houve bastantes competidores
involuntários a este recorde da asneira.
Como nenhum
dos cozinheiros deste pantagruélico deboche dá um passo em frente e admite a
sua incompetência para as funções que desempenha, resta-nos concluir que se
trata de uma culpa coletiva e que o ministério da educação está entregue a uma
confederação de asnos.