Este blogue – cujo primeiro texto exprimiu os meus temperados sentimentos
quanto à aluvião opinativa que sedimentou a ignorância geral, e a minha em
particular, sobre a arcana coisa económica e financeira que aflige o país e
arredores – faz parte do programa de cuidados especiais que resolvi adotar. Faço-o
a título meramente experimental e por razões essencialmente egoístas, na
convicção, porém, de que o melhor contributo que posso dar para a resolução dos
problemas do país é não tentar contribuir de todo.
Ao fazer exatamente coisa nenhuma, mas principalmente não exprimindo opiniões
sobre o mal que aflige a economia e complica as contas do défice, também não
aumento o nível de decibéis de que a nossa atmosfera está já saturada e que perturba
certamente a concentração dos especialistas contratados para reanimar o país-quase-cadáver,
que nunca mais decide se quer ser Lázaro, continuar lazarento, ou entregar de
vez a alma ao criador (ou a bolsa ao credor, em ordinário vernáculo).
A justificação desta minha demissão de responsabilidades, que poderia até parecer cobardolas e fraquinha, tem, bem vistas as coisas, um muito sólido fundamento científico. Se não, vejamos. Na radiação eletromagnética, o ruído carateriza-se pela variação aleatória de frequências e amplitudes das ondas. Para o efeito que aqui interessa, e em português corrente, pode definir-se como qualquer som indesejável, que degrada a qualidade de um sinal e provoca perda de informação. Ora, a “informação” que sobra na vozearia deste mercado de jaquinzinhos políticos e postas de pescada economistas é popularmente traduzida assim: “estamos fritos!”.