21 agosto, 2017

Abandono






1

Das coisas que me ocupam neste estio extraio

a vontade de ouvir a quem corrige

o pequeno mundo, quem endireita a sombra

quem amolece a pedra, quem levanta o pó quando passa

um vento temporão. A pena que me faz o abandono

da faculdade humana de calar.



2

Vejo pousar a tarde nos ombros de quem volta

uma e outra vez, ao lugar onde perdeu o cão.

Olha em redor primeiro, curva-se para apertar

o atacador, não se lhe vê o rosto até se erguer

de novo, afasta dos olhos com as costas da mão

talvez suor e segue.



3

Das coisas que me ocupam neste estio é a água

que mais importa e depois as palavras que são

como a água e depois as pessoas que às vezes

são como a água e se eu tiver sede é a água

que mais importa. Deixo quase tudo correr

como se nada fosse meu. 



14 agosto, 2017

Capricho





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Liu Wei

Swimmers

1997




Ah! Poder no verão esquecer
o peso da dúvida no produto interno
e bruto com dois punhos cerrados
nas queixas cair como a sombra
tarde e sem castigo.

Poder em agosto com sal
nos interstícios pousar apenas
o rabo na areia e acender no crânio
o espectro ultravioleta de um verso
e ver.

Poder ser pobre de pedir e perder menos
por ficar calado e caminhar descalço.

Poder apenas ouvir
como quem sabe.


Instantes

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