08 agosto, 2014

O verão é BEStial


Para quem só veja telejornais, até pode parecer que as vozes que comentam a solução do BEStial problema se dividem de acordo com as muito previsíveis trincheiras de situação e oposição, o que torna também previsível que os simpatizantes do governo digam “sim senhor” e os outros redigam “senhor não”. Mas as dúvidas quanto às garantias de defesa do contribuinte aparecem de toda a parte, e não vêm de perigosos comunistas, nem de céticos impenitentes, nem de portugueses que são suspeitos de malandragem ou ideológicas perversões apenas por serem portugueses escaldados e não filiados.

Só por exemplo, caiu-me na caixa de correio o post de um blogue, cujo título em português poderia ser “Como saquear um país, à maneira do Espírito Santo”, de uma certa Frances Coppola (eu sei o que o nome lembra, mas o Padrinho, por cá, tem outro sal). Traduzo uma parte do texto sobre o dinheiro do Fundo de Resolução que o estado vai emprestar, os 4,4 ou 3,9 mil milhões extraídos dos fundos da troika reservados para recapitalização dos bancos: [O dinheiro] pode estar reservado para esse fim, mas continua a ser dívida pública. A não ser que possa ser refinanciado com dinheiro do setor privado MUITO rapidamente, a declaração do Banco de Portugal de que capitalizar o novo banco “não terá qualquer custo para o erário público, [nem para os contribuintes]” não é remotamente realista.

O dinheiro deste fundo é em grande parte público por várias razões, que não vêm ao caso, mas principalmente porque quando o risco de espinhas é mesmo, mesmo sério, os privados génios da gestão e da finança esperam sempre até que o robalinho esteja escalado. Os contribuintes, por sua vez, seguram o coração nas mãos, porque nos bolsos já pouco há para segurar, e esperam o pior de quem já tantas vezes lhes assegurou que estava tudo bem na banca. Agora, com este novo banco, que não passa de um banco de urgência, os principais financiadores do estado temem naturalmente que lhes venham dizer como poderão involuntariamente contribuir (mais uma vez) para salvar a pátria que outros esmifram.

Eu não faço ideia nenhuma se o “fundo de resolução” pode resolver alguma coisa, ou apenas ajudar a dissolver o que a enxurrada ainda não levou, porque não faço fé nas previsões de financeiros, nem de políticos, independentemente da doutrina económica que professem. E não por rabugice, ou embirração, mas apenas por semialfabetizada cautela quanto à ciência possível de sistemas complexos e, vá lá, admito, porque já ouvi muitos destes indivíduos dizer tantas asneiras e aldrabices com olhinhos cândidos ou poses de doutor, que não me sinto inclinado a deixar-me de cautelas, nem de caldos de galinha.

Considerando que todos os erros e desastres são no fim explicados com aquilo que “na altura” não se podia adivinhar, como agora aconteceu e sempre tem acontecido para justificar medidas de emergência de todos os tamanhos e feitios, que descanso estival nos podem garantir as garantias que agora nos dão?

Quem disse que neste verão o país não arde? 

Instantes

1   Diziam, pela calada agonia dos instantes que eram mudos.   Julgavam-nos pela constância infinita das lamentações pelo fôlego breve do pá...