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14 fevereiro, 2014

Mudar de sheep

A situação do país continua a preocupar-me um bocadinho, mas aparentemente não devia. Não só é bastante evidente que estamos todos cerca de zero-vírgula-quase-nada-por-cento mais ricos, como finalmente descobrimos que o país está nas mãos de um bom pastor. Perdão, gestor. Eu não sou grande coisa em contas, por isso não entendi bem como é que esta soma se traduziu em mais uma subtração no meu boletim de vencimento, mas também pode ser a graduação dos óculos.

Ou então, tudo isto se passa num quadro surrealista. Uma destas noites, não sei se mal acordado, meio adormecido ou simplesmente em sonhos, julguei ouvir o primeiro-ministro fazer uma palestra (discurso, alocução, aula de gestão?) sobre Mirós e ovelhas. Perante um auditório de autarcas, o senhor de São Bento entoava mais uma vez o recitativo da dívida seguido da ária da troika e, não obstante ser barítono, atreveu-se, qual tenor, a um dó de peito por causa de umas telas que não podia ter. Dava ele a entender que quem não tem dinheiro, não tem bichos.

Sem alucinogénio que explicasse a estranheza do que ouvia, comecei a suspeitar de um estado de dissonância cognitiva quando o PM verberou aqueles que se julgam donos do país e ainda por cima querem uns Mirós, mas que, afinal, parece que só têm umas ovelhas velhas (ponto de exclamação!).

Cartaz do filme "Black Sheep", 2006

É possível que a minha confusão se deva ao facto de o orador ter usado termos estrangeiros (estes gestores gostam muito de falar inglês). Segundo ele, “é preciso mudar de sheep”. Precisamos todos de mudar de sheep, aparentemente. Ainda sem entender a relação entre os quadros de Miró e o gado ovino, percebi que afinal podemos ter bichos, desde que sejam umas ovelhas novas.

Para quem não saiba inglês, nem a consoante inicial de chip (a palavra que Passos Coelho tentou dizer) se pronuncia como a de sheep (a que ele efetivamente disse), nem as vogais rimam. Mas chip rima com ship, o barco em que estamos metidos neste dilúvio e do qual só vão sair ilesos os tubarões e o caruncho. 

De uma só penada, o primeiro-ministro demonstrou o seu amor pela arte e pelo património e apresentou uma justificação prática da necessidade de testes de inglês no 9º ano.


Instantes

1   Diziam, pela calada agonia dos instantes que eram mudos.   Julgavam-nos pela constância infinita das lamentações pelo fôlego breve do pá...