Ou então, tudo isto se passa num quadro surrealista. Uma destas noites, não
sei se mal acordado, meio adormecido ou simplesmente em sonhos, julguei ouvir o
primeiro-ministro fazer uma palestra (discurso, alocução, aula de gestão?)
sobre Mirós e ovelhas. Perante um auditório de autarcas, o senhor de São Bento
entoava mais uma vez o recitativo da dívida seguido da ária da troika e, não
obstante ser barítono, atreveu-se, qual tenor, a um dó de peito por causa de
umas telas que não podia ter. Dava ele a entender que quem não tem dinheiro,
não tem bichos.
Sem alucinogénio que explicasse a estranheza do que ouvia, comecei a
suspeitar de um estado de dissonância cognitiva quando o PM verberou aqueles
que se julgam donos do país e ainda por cima querem uns Mirós, mas que, afinal,
parece que só têm umas ovelhas velhas (ponto de exclamação!).
Cartaz do filme "Black Sheep", 2006 |
É possível que a minha confusão se deva ao facto de o orador ter usado termos estrangeiros (estes gestores gostam muito de falar inglês). Segundo ele, “é preciso mudar de sheep”. Precisamos todos de mudar de sheep, aparentemente. Ainda sem entender a relação entre os quadros de Miró e o gado ovino, percebi que afinal podemos ter bichos, desde que sejam umas ovelhas novas.
Para quem não saiba inglês, nem a consoante inicial de chip (a palavra que Passos Coelho tentou dizer) se pronuncia como a de sheep
(a que ele efetivamente disse), nem as vogais rimam. Mas chip rima com ship, o
barco em que estamos metidos neste dilúvio e do qual só vão sair ilesos os
tubarões e o caruncho.
De uma só penada, o primeiro-ministro demonstrou o seu
amor pela arte e pelo património e apresentou uma justificação prática da
necessidade de testes de inglês no 9º ano.
1 comentário:
O nosso primeiro não deve ter falado com o pastor matarruano que dizia "eu quero é tar ca minha ovelha ó faxavor".
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