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24 setembro, 2015

O futuro que passou

O que nos levam eles?

Muitos portugueses emigraram nos últimos anos. A maior parte deles não vai votar nas próximas eleições. De certo modo, foi indo-se embora que votaram. Com os pés, literalmente, exprimiram a sua confiança no futuro do país.

Caso alguém não tenha pensado nisso, o futuro do país é o futuro das pessoas que nele vivam. O futuro dos portugueses que emigraram, pelo menos durante uma boa parte das suas vidas, não será o futuro de Portugal, será o futuro dos países para onde emigraram. Aquilo que sabem fazer, aquilo que façam nascer, não será português agora, nem talvez depois, nem possivelmente nunca. A não ser nas histórias sentimentais que aquecem a alma dos amantes de símbolos e saudades, que sempre acham algum consolo remoto nos vestígios de Portugal no mundo, o futuro de Portugal perde quase tudo o que esta gente poderia dar-lhe a ganhar.

Para estes portugueses que emigraram, Portugal é mais passado que futuro. Para nós, que ainda aqui estamos, é um pedaço de futuro que passou. 

E eu, que fiquei por cá, embora contrariado, fico também com uma dúvida: votar naqueles que levaram tantas pessoas a partir, não será traí-las duas vezes? Por favor, não me digam de novo que não havia outra maneira, porque isso é o mesmo que dizer que tudo isto é fado. E tudo isso é triste.    

02 janeiro, 2015

Acidente


Portugal é o país onde os portugueses acontecem.
Se os portugueses fossem mais organizados
e fizessem mapas, iriam acontecer ao pé de outra gente
preventivamente.


Se um português acontecesse na Noruega, que é menos quente
já não teria depois que pôr-se ao fresco
porque seria logo norueguês e ainda teria bacalhau
se lhe apetecessem pataniscas.


Do que nunca se lembraria outra vez
era de ser português
e de ter saudades de coisas que nunca passaram nas televisões
como grandes batalhas com aparições
e restaurações, no tempo em que havia unicórnios
e dragões


e todos os portugueses eram heróis
e muito honestos
e mais espertos do que todos os outros
que eram só piratas, coitados
e espanhóis.


Instantes

1   Diziam, pela calada agonia dos instantes que eram mudos.   Julgavam-nos pela constância infinita das lamentações pelo fôlego breve do pá...