Para quem só veja telejornais, até pode parecer que as vozes que comentam a
solução do BEStial problema se dividem de acordo com as muito previsíveis trincheiras
de situação e oposição, o que torna também previsível que os simpatizantes do
governo digam “sim senhor” e os outros redigam “senhor não”. Mas as dúvidas quanto
às garantias de defesa do contribuinte aparecem de toda a parte, e não vêm de
perigosos comunistas, nem de céticos impenitentes, nem de portugueses que são
suspeitos de malandragem ou ideológicas perversões apenas por serem portugueses
escaldados e não filiados.
Só por exemplo, caiu-me na caixa de correio o post de um blogue, cujo
título em português poderia ser “Como saquear um país, à maneira do Espírito Santo”, de uma certa Frances
Coppola (eu sei o que o nome lembra, mas o Padrinho, por cá, tem outro sal). Traduzo
uma parte do texto sobre o dinheiro do Fundo de Resolução que o estado vai
emprestar, os 4,4 ou 3,9 mil milhões extraídos dos fundos da troika reservados
para recapitalização dos bancos: [O
dinheiro] pode estar reservado para esse fim, mas continua a ser dívida
pública. A não ser que possa ser refinanciado com dinheiro do setor privado
MUITO rapidamente, a declaração do Banco de Portugal de que capitalizar o novo
banco “não terá qualquer custo para o erário público, [nem para os
contribuintes]” não é remotamente realista.
O dinheiro deste fundo é em grande parte público por várias razões, que não
vêm ao caso, mas principalmente porque quando o risco de espinhas é mesmo,
mesmo sério, os privados génios da gestão e da finança esperam sempre até que o
robalinho esteja escalado. Os contribuintes, por sua vez, seguram o coração nas
mãos, porque nos bolsos já pouco há para segurar, e esperam o pior de quem já
tantas vezes lhes assegurou que estava tudo bem na banca. Agora, com este novo
banco, que não passa de um banco de urgência, os principais financiadores do
estado temem naturalmente que lhes venham dizer como poderão involuntariamente
contribuir (mais uma vez) para salvar a pátria que outros esmifram.
Eu não faço ideia nenhuma se o “fundo de resolução” pode resolver alguma
coisa, ou apenas ajudar a dissolver o que a enxurrada ainda não levou, porque não
faço fé nas previsões de financeiros, nem de políticos, independentemente da doutrina
económica que professem. E não por rabugice, ou embirração, mas apenas por semialfabetizada
cautela quanto à ciência possível de sistemas complexos e, vá lá, admito, porque
já ouvi muitos destes indivíduos dizer tantas asneiras e aldrabices com
olhinhos cândidos ou poses de doutor, que não me sinto inclinado a deixar-me de
cautelas, nem de caldos de galinha.
Considerando que todos os erros e desastres são no fim explicados com
aquilo que “na altura” não se podia adivinhar, como agora aconteceu e sempre
tem acontecido para justificar medidas de emergência de todos os tamanhos e
feitios, que descanso estival nos podem garantir as garantias que agora nos dão?
Quem disse que neste verão o país não arde?
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