21 agosto, 2017

Abandono






1

Das coisas que me ocupam neste estio extraio

a vontade de ouvir a quem corrige

o pequeno mundo, quem endireita a sombra

quem amolece a pedra, quem levanta o pó quando passa

um vento temporão. A pena que me faz o abandono

da faculdade humana de calar.



2

Vejo pousar a tarde nos ombros de quem volta

uma e outra vez, ao lugar onde perdeu o cão.

Olha em redor primeiro, curva-se para apertar

o atacador, não se lhe vê o rosto até se erguer

de novo, afasta dos olhos com as costas da mão

talvez suor e segue.



3

Das coisas que me ocupam neste estio é a água

que mais importa e depois as palavras que são

como a água e depois as pessoas que às vezes

são como a água e se eu tiver sede é a água

que mais importa. Deixo quase tudo correr

como se nada fosse meu. 



Instantes

1   Diziam, pela calada agonia dos instantes que eram mudos.   Julgavam-nos pela constância infinita das lamentações pelo fôlego breve do pá...