Os balanços do ano finado e as previsões para o ano que alvorece estão para
esta infindável quadra, forçosa e esforçadamente festiva para muitos, como o
bolo-rei ele mesmo: ninguém aprecia especialmente, mas faz-se sempre. O ser humano
afeiçoa-se com facilidade a celebrações e preenche os calendários com dias “especiais”.
É claro que a sua profusão os torna menos especiais, mas qualquer desculpa
serve para comer até para lá da saciedade, beber até ao estupor dos sentidos e,
claro, para retrospetivas e prospetivas perdas de tempo.
Entre balanços, previsões e todas as marcas das celebrações, prefiro contemplar
a fava. A fava vem metaforicamente a propósito porque é o legume que mais
provavelmente sairá à maioria dos portugueses no inauspicioso ano que me
amanheceu hoje, enfriado e embaciado, nas vidraças da janela. Segundo me é
possível vislumbrar entre os espumosos vapores da festança de ontem e os gases
tóxicos de uma campanha eleitoral que começou com um ano de antecedência, o ano
de 2015, por muito que me custe rebentar o balãozinho ainda meio insuflado dos
meus ressacados leitores, não vai ser nada de especialmente divertido.
Sem cartas astrais, baralhos de tarô, folhas de chá ou mendes e marcelos, não
prevejo nada realmente bom (realmente não prevejo nada, mas é maneira de falar).
E se o que aí vem apenas bom fosse, já ótimo seria. Pela riqueza do discurso
político que se ouve, que pouco deve à imaginação e à dívida tudo deve, vai ser
um ano em que, mais uma vez, se falará do que menos abunda como se a sua
abundância fosse tudo o que falta.
Se ao menos a árvore de Natal fosse a das patacas, pensamos nós, logo se veria.
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