“Ausência de
indústria e de fábricas significativas,
eis a higiene de um
país como o nosso.
E quando não há
chaminés importantes
até o fumo do
cigarro conta para efeitos estatísticos.
Não é grande nem é
enorme mas é simpático, este país.
Dois lados dão para
a terra, dois lados para o mar.
E a coisa assim
quase dá certo.”
Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia (2010)
Os números são sinais. Quando os números são convocados a assistir ao conselho de ministros, vêm a público dar sinal do épico trabalho do governo para endireitar o que nasceu torto. Chamam-lhe uns trabalho de Hércules, outros de Sísifo, quase. A mitologia grega parece excessiva para a mundana tarefa de arrumar a escrita, porém, como os números são muito pequeninos e estamos em ano de eleições, é preciso usar ao menos um megafone e duas hipérboles.
É assim que crescem a natalidade e a economia, e o desemprego baixa, presumivelmente
porque a aquisição de uma dúzia de fraldas descartáveis a mais do que em
período homólogo do ano anterior fez aumentar significativamente o PIB e sinaliza
uma clara tendência de crescimento sustentado.
A língua enrola-se adjetiva e adverbialmente; as têmporas latejam em êxtase
estatístico; o chão treme e o país avança mais um centímetro na direção do vale
fértil.
E mais vale tarde ao vale, não diz o ditado, mas podia dizer. Remoto
consolo é o céu.