Os rankings
das escolas começaram por me deixar um pouco mais tranquilo, uma vez que
provaram, de maneira que julgo irrefutável, que os funcionários do Ministério
da Educação têm acesso a computadores e a máquinas de calcular. Depois dos
episódios da colocação de professores, havia sobre o assunto um justificado
ceticismo, que agora se dissipou. Julgo, contudo, que os referidos recursos
informáticos teriam sido mais úteis ao país se os funcionários tivessem passado
os últimos meses a jogar Angry Birds
ou a ver vídeos de gatinhos no YouTube. Pelo menos teríamos alguns cidadãos
descontraídos, em vez de milhares de pais enganados.
Os rankings,
ou “ordenações”, não resultam da avaliação de coisa nenhuma, lançam luz sobre o
que já estava iluminado e obscurecem aquilo que queriam dar a ver. O problema
da aplicação de métodos quantitativos a questões sociais é muitas vezes este
mesmo: medem-se as coisas que podem ser medidas, porque é fácil, e ignoram-se
as coisas que precisam de ser medidas, porque é impossível, ou pouco prático.
Somar as notas dos exames e fazer a média é exercício de crianças, mas ordenar
escolas aplicando a algumas (privadas) este único critério e acrescentando à
maioria (públicas) ponderações de quantificação mais ou menos impressionista é
coisa mais arbitrária do que o peso de um arrátel na Idade Média (quantas
décimas vale a média entre 7 pais operários fabris, 3 canalizadores e 8
escriturários?).
Produzem-se então umas tabelas giras, que
agradam especialmente aos diretores de colégios privados, e cria-se a ilusão de
que se ficou a saber alguma coisa que não se sabia anteriormente. Recorrer a estes
critérios e às tabelas ordenadas que resultam da sua aplicação é fazer como o
bêbedo que procurava as chaves de casa debaixo do candeeiro da rua, porque
tinha mais luz, em vez de ir à procura delas no sítio onde as perdera. A analogia
entre a demanda do ébrio cidadão e os erros
produzidos por uma investigação pouco avisada é bastante velha e o ministro
Nuno Crato, que parece geralmente sóbrio, percebe-a pelo menos 100 vezes melhor
do que eu (mas admito a imprecisão da minha matemática).
Comparar resultados de uma escola privada,
que leva a exame 100 alunos selecionados, com os de uma escola pública que leva
500 que ninguém escolheu (alguns dos quais nem sequer frequentaram a dita) é,
no mínimo, enganador quanto à qualidade dos estabelecimentos. Assim, os rankings das escolas parecem apenas mais
uma modalidade do desporto radical que muitos políticos praticam: a estatística
acrobática. Há alguns que dominam perfeitamente o mortal à retaguarda com
pirueta e outros que apenas se espalham ao comprido e ficam convencidos de que
caíram em pé. Mas não faz grande mal, porque há sempre bastantes eleitores que
se deixam enganar e até uns quantos que gostam de ser enganados.
O senhor ministro acha fundamental que
os pais tenham informação sobre as escolas nas quais poderiam inscrever os
filhos. Eu também acho, mas a informação que ele disponibiliza só seria útil se
estivessem reunidas duas condições. Primeira: que as “ordenações” fossem mais
do que a mistura de um conjunto de médias aritméticas obtidas de maneiras
diferentes (comparar a média dos nabos com a média das abóboras resulta numa
sopa turva). Segunda: que fosse possível ir comprar a escola ao supermercado
mais próximo, ou teletransportar as crianças todos os dias para qualquer escola
do país.
E afinal, quando a medida se transforma na
meta, deixa de ser uma boa medida. É quase inevitável, se a avaliação prevalece
sobre o ensino e tende a discriminar arbitrariamente, que a pressão exercida sobre
as escolas para melhorarem a sua posição nas tabelas leve à manipulação, ainda
que benigna e bem-intencionada, dos fatores que contribuem para a formação das
médias. A doce ilusão de rigor que os números facilmente produzem serve assim, pelo
menos, para embalar o sono dos inocentes e para dar mais uma inocente facadinha
no sistema público de ensino. Quem ganha com estas contas? E quem conta mais
para quem tais histórias conta?
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