Que afinal o que importa é não
ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Mário Cesariny
O país esturrica ao sol, bronzeado e bem passado, enquanto
políticos almoçam os feijões que o INE conta. O INE é o Instituto Nacional de
Estatística e a sua única função é contar coisas. Já a função dos políticos,
principalmente os políticos engravatados do “arco dos poleirinhos”, é a de
contar histórias (ou de produzir “narrativas”, que é mais fino e pós-moderno). Agarram
nos feijões do desemprego que o INE contou e recontam, descontam, discutem se o
feijão é preto, ou se é frade, ou se é de bico. Mas o caso é mais bicudo,
porque nem o feijão coze, nem o desempregado almoça.
Qual é o espanto? A campanha não é alegre? Então a função
dos políticos em campanha não é dar-nos música agora e, correndo tudo bem,
deixar-nos de tanga depois? Talvez seja, mas recomendo reserva no juízo. Não
quero que fiquem com a impressão de que pertenço à grande maioria que gosta de
dizer que os políticos são todos iguais. Primeiro, porque não é verdade. E não
é apenas porque uns sejam piores do que outros, o que seria puro cinismo e a esfarrapada
desculpa que alguns usam para fazer toda a sorte de sacanices. “Se eles fazem…”
começa a história. Se pensam assim, mais vale que se dediquem à política.
O que quero dizer é que a conversa dos feijões serve para
desviar atenções. Enquanto o olhar se entretém com o sobe e desce de umas casas
decimais, esquece-se o pobre que esmola, o rico que esfola, o país inclinado
para o mar como Titanic de pedra e o planeta a caminho do inferno numa carroça
a jato.
Os senhores do governo e arredores veem “sinais”. Apareceu-lhes
a imagem da virgem da retoma numa tosta mística! Num país assim entretido, ganha
as eleições quem tiver mais devotos.