e a notícia
da manhã traduz o que importa
numa
língua morta.
As
frases recitadas
que todas
as noites nos embalam o sono
e nos tolhem
os sonhos,
são
uma missa entoada em latim vulgar,
não
dão pra dançar.
Ouço cantar uma língua
de contas
e de trapos
e vejo aos saltos coelhos
e cartolas,
merkels e mercados,
bancos e bandidos,
e muitos
passos
perdidos.
Desfilam
sociedades secretas
e
casas de segredos,
arranjinhos
e arremedos,
piores
emendas para maus sonetos
e muitos
bichos caretos.
Entre
um estômago meio cheio
e uma cabeça
meio vazia,
olhamos
como se esperássemos
um
milagre de maria.
Mas diz
que, não tarda, vamos ali ao mercado
e que
é tudo fiado,
mas com
juros baixinhos.
Pra
comprar jaquinzinhos?
Diz
que o país, se calhar,
vai crescer
um cabelo.
E o
tamanho do pelo
vai pagar
o pão?
Diz
que dívida assim
e o défice
anão;
diz
que pouco salário
e
menor pensão;
diz
que quem fala do alto
é quem
tem a razão,
mas o
maior défice
é de
imaginação.