O pequeno-almoço
inglês, ou full English breakfast,
que pode também designar-se apenas como full
English, ou até fry-up, pode
variar um pouco de região para região do Reino Unido, mas inclui geralmente
bacon, ovos estrelados, salsichas, feijão cozido, cogumelos fritos, tomate
frito, torrada com manteiga e muitas vezes black
pudding (um chouriço de sangue). Ou seja, é uma coisa entre o fartote e o
enfarte. Os dois efeitos não são, aliás, mutuamente exclusivos: lambem-se agora
os beiços e afaga-se o estômago, mas um dia pode ser necessário chamar o 999 (o
número de emergência britânico). Pode dizer-se, portanto, que há um efeito de
curto prazo e um efeito de médio ou longo prazo.
Os meus
perspicazes leitores (que costumam ler pelo menos os títulos), já perceberam o
trocadilho barato em que me meti e temem certamente que me prepare para
mastigar uma metáfora gastronómica até à náusea, às costas do que vem
acontecendo no Reino Unido desde o referendo do dia 23 de junho. Porém, uma vez
que o pequeno-almoço inglês e o abuso das metáforas para fins retóricos são
coisas cujo consumo frequente me parece pouco recomendável, vou queimar
gorduras, atalhando razões.
Antes de
consumado o Brexit (a saída a prazo do Reino Unido da União Europeia),
apetece-me saborear, irresponsavelmente, as consequências imediatas do
exercício do poder por uma classe de meninos muito bem educados, nos melhores
colégios privados ingleses, e exemplos acabados do establishment conservador. Os campeões da campanha, de um lado e do
outro da barricada, que deviam ter um plano de contingência para o dia seguinte
e que afinal não tinham sequer um guarda-chuva, fugiram como ratos, ou foram
apanhados nas suas próprias ratoeiras: David Cameron, que prometeu o referendo
apenas para ganhar as eleições, vai ficar mais famoso por alegadamente ter introduzido o
membro viril na boca de um porco morto, do que por ter retirado os britânicos da
lista de membros da UE.
David Cameron |
Boris Johnson,
que defendeu a saída da UE apenas para se distinguir de Cameron e lhe suceder no cargo (uma vez que
antes era europeísta), vai para sempre ficar pendurado
nas suas contradições.
Boris Johnson |
Michael Gove, o
homem que não queria ouvir especialistas (e presumivelmente se preparava para
governar rodeado de leigos) atraiçoou Cameron e Johnson e foi depois atraiçoado
pela sua violenta estupidez.
Michael Gove |
Nigel Farage, o
racista e xenófobo “provocador” (que já nos tempos de escola andava pelos
montes a cantar hinos da juventude nazi), cujas arengas demagógicas e
populistas no Parlamento Europeu foram partilhadas milhares de vezes por
portugueses ignorantes, admitiu que o principal slogan da campanha a favor da
saída da UE era uma aldrabice, no próprio
dia em que os resultados do referendo foram anunciados. Demitiu-se
imediatamente da liderança do UKIP com a sensação de dever cumprido.
Nigel Farage |
Exeunt Omnes,
“saem todos (do palco)”, como diziam antigamente as didascálias em latim nas
peças de teatro. Ou, neste caso, Brexeunt
Omnes! Quem vier a seguir…
A dog’s breakfast é uma expressão idiomática que não tem nada que
ver com refeição nenhuma, nem dos cães nem dos donos, e que serve para
qualificar os “lindos serviços” (ou grandes porcarias) de pessoas pouco hábeis.
Curiosamente, parece ter origem na Escócia, que não manifestou interesse em
partilhar o pratinho.