As eleições presidenciais são já neste domingo. Mal
consigo disfarçar a minha esfuziante indiferença. Há um candidato sobre o qual
sei demais para poder votar nele; vários sobre os quais não sei o suficiente, e
outros dos quais nem quero saber. Recomendo, portanto, vivamente, que toda a
gente ignore aquilo que penso sobre o assunto.
Como não quero ser acusado de aconselhar a abstenção,
sugiro que façam uma de duas coisas: convençam-se de que algo muito importante
depende do inquilino de Belém (se já estavam convencidos disso, lamento), ou então
arranjem um pretexto qualquer para justificar a deslocação à assembleia de voto,
nem que seja para ir fazer um donativo aos bombeiros. Por mim, planeio um
domingo sossegado, que felizmente terminará com a derrota da maioria dos
candidatos.
As eleições para um órgão unipessoal, como se costuma
chamar à Presidência da República, chateiam-me por um número de razões indeterminado
(porque ainda nem tive tempo para as contar), mas a principal é ele ser mesmo “unipessoal”.
Um órgão de soberania composto por uma pessoa só não é um órgão, é uma gaita de
beiços. Sinto uma imediata antipatia pelas pessoas que têm o ego
suficientemente desenvolvido para se candidatarem ao cargo. Como não me imagino
a oferecer-me para presidir a uma comissão de festas composta por dois
elementos (contando comigo), a presunção de alguém que pensa em ser chefe de um
estado (mesmo que ele fosse o estado de coma) parece-me mais difícil de
imaginar do que a infinitude do universo, o jackpot do euromilhões, ou a
inocência de Sócrates e Salgados. E uso estas moderadas comparações apenas para
não me acusarem de usar a hipérbole como figura de estilo.
Espero que o domingo vos seja leve. Não sei se me seria
possível sobreviver a uma hipotética segunda volta, a não ser que ela fosse a
última e o cargo de Presidente da República fosse logo a seguir
constitucionalmente abolido e substituído por qualquer coisa mais útil, como novas
vias para ciclistas ou cantinas económicas para políticos sem subvenção
vitalícia.