16 janeiro, 2017

Anónimo com nó (um e dois)


Kurt Schwitters, Sem título (com retrato de Kurt Schwitters quando jovem), 1937-8



1
Quando era criança, rezava o terço
e não gostava de favas. Depois
como os dias em junho a estrada
ficou maior do que a noite.

Um tímido porém nunca
se atreve demais sempre guarda
o iceberg do espanto a parte grande
do amor como um selo com saliva
mas sem carta.

2
Desembarcou de madrugada numa cidade
grande demais para encontrar o passado
escondeu-se de vez. Fui encontrá-lo
sem cabelo numa esplanada lia o espião
perfeito, o bibliotecário de Hull, levava a vida
indiferentemente fodida do órfão
que acredita em favas.

Pagou os cafés deixou o troco guardou
o caderno as notas de leitura ligou
por fim o telemóvel apertou o nó
da garganta disse até logo só nos livros
é que a história termina antes do fim.



Instantes

1   Diziam, pela calada agonia dos instantes que eram mudos.   Julgavam-nos pela constância infinita das lamentações pelo fôlego breve do pá...