10 julho, 2016

Full English Brexit ou Dog's Breakfast? (Lição de inglês moderno para cidadãos europeus)




O pequeno-almoço inglês, ou full English breakfast, que pode também designar-se apenas como full English, ou até fry-up, pode variar um pouco de região para região do Reino Unido, mas inclui geralmente bacon, ovos estrelados, salsichas, feijão cozido, cogumelos fritos, tomate frito, torrada com manteiga e muitas vezes black pudding (um chouriço de sangue). Ou seja, é uma coisa entre o fartote e o enfarte. Os dois efeitos não são, aliás, mutuamente exclusivos: lambem-se agora os beiços e afaga-se o estômago, mas um dia pode ser necessário chamar o 999 (o número de emergência britânico). Pode dizer-se, portanto, que há um efeito de curto prazo e um efeito de médio ou longo prazo.  


Os meus perspicazes leitores (que costumam ler pelo menos os títulos), já perceberam o trocadilho barato em que me meti e temem certamente que me prepare para mastigar uma metáfora gastronómica até à náusea, às costas do que vem acontecendo no Reino Unido desde o referendo do dia 23 de junho. Porém, uma vez que o pequeno-almoço inglês e o abuso das metáforas para fins retóricos são coisas cujo consumo frequente me parece pouco recomendável, vou queimar gorduras, atalhando razões.


Antes de consumado o Brexit (a saída a prazo do Reino Unido da União Europeia), apetece-me saborear, irresponsavelmente, as consequências imediatas do exercício do poder por uma classe de meninos muito bem educados, nos melhores colégios privados ingleses, e exemplos acabados do establishment conservador. Os campeões da campanha, de um lado e do outro da barricada, que deviam ter um plano de contingência para o dia seguinte e que afinal não tinham sequer um guarda-chuva, fugiram como ratos, ou foram apanhados nas suas próprias ratoeiras: David Cameron, que prometeu o referendo apenas para ganhar as eleições, vai ficar mais famoso por alegadamente ter introduzido o membro viril na boca de um porco morto, do que por ter retirado os britânicos da lista de membros da UE.

David Cameron

Boris Johnson, que defendeu a saída da UE apenas para se distinguir de Cameron  e lhe suceder no cargo (uma vez que antes era europeísta), vai para sempre ficar pendurado nas suas contradições.

Boris Johnson

Michael Gove, o homem que não queria ouvir especialistas (e presumivelmente se preparava para governar rodeado de leigos) atraiçoou Cameron e Johnson e foi depois atraiçoado pela sua violenta estupidez.

Michael Gove

Nigel Farage, o racista e xenófobo “provocador” (que já nos tempos de escola andava pelos montes a cantar hinos da juventude nazi), cujas arengas demagógicas e populistas no Parlamento Europeu foram partilhadas milhares de vezes por portugueses ignorantes, admitiu que o principal slogan da campanha a favor da saída da UE  era uma aldrabice, no próprio dia em que os resultados do referendo foram anunciados. Demitiu-se imediatamente da liderança do UKIP com a sensação de dever cumprido. 

Nigel Farage

Exeunt Omnes, “saem todos (do palco)”, como diziam antigamente as didascálias em latim nas peças de teatro. Ou, neste caso, Brexeunt Omnes! Quem vier a seguir…


A dog’s breakfast é uma expressão idiomática que não tem nada que ver com refeição nenhuma, nem dos cães nem dos donos, e que serve para qualificar os “lindos serviços” (ou grandes porcarias) de pessoas pouco hábeis. Curiosamente, parece ter origem na Escócia, que não manifestou interesse em partilhar o pratinho.


Instantes

1   Diziam, pela calada agonia dos instantes que eram mudos.   Julgavam-nos pela constância infinita das lamentações pelo fôlego breve do pá...