11 agosto, 2015

Agosto é para contar feijões. E depões?

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

                                                             Mário Cesariny

O país esturrica ao sol, bronzeado e bem passado, enquanto políticos almoçam os feijões que o INE conta. O INE é o Instituto Nacional de Estatística e a sua única função é contar coisas. Já a função dos políticos, principalmente os políticos engravatados do “arco dos poleirinhos”, é a de contar histórias (ou de produzir “narrativas”, que é mais fino e pós-moderno). Agarram nos feijões do desemprego que o INE contou e recontam, descontam, discutem se o feijão é preto, ou se é frade, ou se é de bico. Mas o caso é mais bicudo, porque nem o feijão coze, nem o desempregado almoça.


Qual é o espanto? A campanha não é alegre? Então a função dos políticos em campanha não é dar-nos música agora e, correndo tudo bem, deixar-nos de tanga depois? Talvez seja, mas recomendo reserva no juízo. Não quero que fiquem com a impressão de que pertenço à grande maioria que gosta de dizer que os políticos são todos iguais. Primeiro, porque não é verdade. E não é apenas porque uns sejam piores do que outros, o que seria puro cinismo e a esfarrapada desculpa que alguns usam para fazer toda a sorte de sacanices. “Se eles fazem…” começa a história. Se pensam assim, mais vale que se dediquem à política.

O que quero dizer é que a conversa dos feijões serve para desviar atenções. Enquanto o olhar se entretém com o sobe e desce de umas casas decimais, esquece-se o pobre que esmola, o rico que esfola, o país inclinado para o mar como Titanic de pedra e o planeta a caminho do inferno numa carroça a jato.

Os senhores do governo e arredores veem “sinais”. Apareceu-lhes a imagem da virgem da retoma numa tosta mística! Num país assim entretido, ganha as eleições quem tiver mais devotos.

Arde

Mark Rothko, Number 14 (1960) Arde calma a culpa como a tarde cai.   Arde melhor o que não podes ver.   Por baixo da terra atos omiss...